Anderson Barbosa
Do G1 RN
José Fernandes Castelo foi morto após furar barreira policial
(Foto: Reprodução/Facebook e Gilli Maia/G1)
Um capitão e um soldado da Polícia Militar do Rio Grande do Norte foram indiciados por participação na morte do universitário cearense José Fernandes Castelo, de 19 anos, baleado nas costas após furar uma barreira policial na cidade de Mossoró, na região Oeste potiguar. O caso aconteceu em abril do ano passado após seis policiais militares perseguirem o veículo que o rapaz dirigia, um Honda Civic com placas de Fortaleza. A informação foi confirmada ao G1 pelo titular da Delegacia Especializada de Homicídio em Mossoró, delegado Cleiton Pinho, responsável pelo inquérito.
Ainda de acordo com Cleiton Pinho - que preferiu não revelar os nomes do oficial e do praça indiciados - caberá ao Ministério Público decidir se representa pela qualificação do crime como homicídio doloso (quando assume-se o risco de matar) ou culposo (quando não há a intenção). O MP recebeu o inquérito, mas ainda não ofereceu a denúncia ao Tribunal de Justiça."Indiciei o oficial que comandou a ação por adulteração da cena do crime, pois ficou comprovado durante a reconstituição que ele removeu o veículo em que o jovem estava quando foi baleado. E também indiciei um dos soldados, justamente o que efetuou os disparos que atingiram o carro e as costas do rapaz", explicou o delegado.
O G1 entrou em contato com o Ministério Público, mas a assessoria do órgão informou que o promotor Armando Lúcio Ribeiro está de férias e que só irá se pronunciar sobre o caso quando voltar ao trabalho, o que deve acontecer no final deste mês.
Inquérito Policial Militar
Paralelamente ao inquérito instaurado pela Polícia Civil, o comando da Polícia Militar também abriu uma investigação para apurar a conduta dos seis PMs envolvidos na ação que resultou na morte do cearense. De acordo com o coronel Lenildo Sena, que presidiu o IPM, três soldados efetuaram os disparos que atingiram a lataria do carro em que Castelo estava, mas apenas um dos soldados foi indiciado por homicídio culposo. "Entendemos que os policiais não tiveram a intenção de matar, por isso indiciamos só o soldado que de fato foi o responsável pelo tiro que atingiu as costas da vítima", afirmou o coronel.
Quanto ao capitão indiciado por adulteração da cena do crime, Lenildo disse que a PM não chegou ao mesmo entendimento do delegado e que, portanto, caberá ao Ministério Público decidir se aceita a queixa contra o oficial ou não por ele ter removido o automóvel do local onde Castelo foi baleado.
Entenda o caso
José Fernandes Castelo, de 19 anos, nasceu em Tauá, no Ceará. Ele morava em Mossoró desde o início do ano passado, onde cursando engenharia civil no campus da Universidade Potiguar (UnP). Ele foi morto na noite de 13 de abril após levar um tiro nas costas. O disparo foi feito pela Polícia Militar após o jovem furar uma barreira de fiscalização de trânsito. Na época, segundo informações do 12º Batalhão da PM, o rapaz conduzia um Honda Civic com placas de Fortaleza e, ao ser perseguido, atropelou três pessoas.
Familiares do universitário foram de Tauá (CE) para Mossoró (RN) exigir justiça
(Foto: Geangelles Pinheiro/G1)
Ainda de acordo com informações da PM, familiares do rapaz teriam confirmado que ele havia bebido. Segundo perícia preliminar do Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), foi encontrado um copo com bebida alcoólica dentro do veículo. O tiro que atingiu as costas de Castelo perfurou a lanterna traseira do lado direito e atravessou o banco do motorista.
A perseguição, conforme registrado pela PM de Mossoró, aconteceu a partir da avenida Leste-Oeste, no Centro da cidade. Consta que o universitário ainda foi perseguido por guarnições da Departamento de Polícia Rodoviária Estadual (DPRE) por várias ruas do bairro Boa Vista, só parando o veículo ao ser alvejado no bairro Nova Betânia.
'Dor sem limites'
Em outubro do ano passado, após seis meses da morte do filho, o G1 entrevistou o pai do universitário. Tyrone Castelo, de 54 anos, é engenheiro civil. Na ocasião, ele disse que ainda tentava superar a perda inesperada do filho. "É uma dor sem limites, um sofrimento profundo que abalou a família por inteiro. Perder um filho é brutal, algo que não desejo nem para o meu pior inimigo", desabafou.
Durante a entrevista, o pai também falou sobre a atitude do filho. "É preciso ser sincero. Ele tinha tirado a carteira há pouco tempo. Acredito que ele bebeu e ao passar pela barreira ficou com medo de ser pego". Entretanto, Tyrone acrescentou que o rapaz só acelerou o carro depois que foi perseguido. "O carro passou com 40 quilômetros na barreira e depois acelerou. Quem não faria isso sendo perseguido, ouvindo tiros?", ressaltou.
Por fim, o pai cobrou punição para os policiais. "Queremos que seja apurado. Que os responsáveis respondam pela ação desastrosa", disse. Além da morte do filho, Tyrone acusa os policiais militares de mentir sobre o que aconteceu no dia da morte de Castelo. "Meu filho não atropelou três pessoas como foi dito pelos policiais. Apenas um motociclista foi atingido e fraturou o pé. Demos toda a assistência e pagamos o tratamento. Além de tirar a vida do meu filho, difamaram o nome dele", acrescentou o engenheiro.