Dez pessoas são mortas no fim de semana; principal motivo é tráfico de drogas
A
quantidade de assassinatos registrados em Natal e Região Metropolitana
nesse final de semana - foram dez, da noite da sexta-feira (16) às 7h de
hoje - eleva a estatística dos crimes de homicídios supostamente
decorrentes do tráfico de drogas, segundo as autoridades da segurança
pública do Estado.
Na maioria dos casos registrados no Itep-RN
até a manhã dessa segunda-feira, a maioria das vítimas é do sexo
masculino e todos adolescentes ou adultos jovens [entre 16 e 29 anos de
idade]. Os crimes ocorreram também em municípios da região
metropolitana, um em Macaíba e outro em São Gonçalo, porém a maioria foi
registrado na zona Norte da capital. Só no último domingo, três
homicídios foram registrados na região.
A sucessão de crimes
violentos deixou quatro pessoas mortas até o último sábado. Houve ainda
uma tentativa de homicídio, no bairro de Felipe Camarão, zona Oeste da
capital. Um atendente de bar identificado como Paulo César, de 29 anos,
sofreu 7 disparos de revólveres de calibre 38.
O garçom foi
surpreendido por dois jovens armados no início da tarde, por volta das
15h, e recebeu os disparos sem a chance de reagir. Um dos autores dos
disparos, um jovem de 18 anos, Luiz Felipe Mendonça, foi preso horas
após o crime em flagrante. O outro, conhecido na região como "Juquinha",
permanece foragido. Paulo César está internado no Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel em estado gravíssimo e se não resistir se tornará a 11ª
vítima do fim de semana violento.
Às 18h40 do domingo, um outro
homem, identificado por Jorge Luiz Lira Rodrigues, de 30 anos, foi morto
na rua do Limoeiro, no bairro Potengi, agora na região mais violenta da
cidade: a zona Norte. A vítima estava na calçada de casa quando foi
surpreendida por dois homens que chegaram ao local em uma motocicleta.
Os bandidos atiraram várias vezes e a vítima acabou caindo morta na
própria calçada.
Pouco depois, por volta das 20h, um duplo
homicídio teve como palco o conjunto Nordelândia, no bairro de Lagoa
Azul, também na zona Norte da capital. João Paulo Ferreira da Silva, de
16 anos, e Ericsson Alan da Silva Nascimento, de 17 anos, foram
surpreendidos por dois homens armados em um Gol preto, que desceram do
veículo e abordaram as vítimas, ordenando que se ajoelhassem. Os
disparos foram efetuados na nuca de cada uma das vítimas. João Paulo
morreu na hora. Erickson ainda foi socorrido e encaminhado para o
Hospital José Pedro de Bezerra (Santa Catarina), mas também não resistiu
ao ferimento e veio a óbito.
Às 23h, em Macaíba, foi a vez de
Luan dos Santos Nunes, de 19 anos, ser executado. Também abordado por
dois homens, agora numa moto de cor preta, o rapaz foi assassinado
quando voltava do trabalho. Por volta da 1h40 de ontem em São Gonçalo do
Amarante, dois indivíduos também numa moto de cor preta abordaram um
homem não identificado e de seguida efetuaram os disparos com arma de
fogo.
Encerrando o fim de semana sangrento, um homicídio cometido
com arma branca ocorreu por volta das 2h da madrugada dessa
segunda-feira em Redinha Nova. João Batista do Nascimento foi
assassinado a golpes de faca dentro de sua própria casa. Após os as
facadas, a vítima ainda se locomoveu por 30 metros até a casa de um
vizinho, onde veio a falecer.
De acordo com o diretor de Polícia
Civil da Grande Natal (DPGram), Albérico José Norberto, a maior parte
dos crimes são motivados ou têm origem através do tráfico de drogas. "A
maior parte dos homicídios registrados têm características de execução. E
na grande maioria das vezes identificamos que os envolvidos nos crimes,
vítimas e assassinos, fazem parte desse mundo tenebroso, que é o das
drogas", alegou o diretor.
Segundo Albérico, o papel da Polícia
Civil e instaurar inquéritos policiais e identificar os autores dos
crimes tem sido cumprido. "Cabe à Polícia Militar o trabalho preventivo e
ostensivo. Nosso papel é apenas investigativo", frisou.
Fazendo
uso dos recursos disponíveis, que já são ineficientes, a Polícia Civil
tenta realizar um trabalho em que se precisa de no mínimo três escrivães
e dois delegados em cada distrital.
Atualmente, apenas um
escrivão e um delegado executam esses trabalhos nas distritais, número
que era suficiente há 30 anos atrás. "Hoje essa quantidade de
profissionais está defasada. Afinal intensificou-se o tráfico de drogas
com o conseqüente aumento populacional das últimas décadas.
Conseqüentemente, cresce a criminalidade", pontuou.
Albérito
recordou que a Polícia Civil está organizando rondas, principalmente na
região da zona Norte, em parceria com a Polícia Militar, cumprindo
mandados de prisão e ordens de serviço. Para o diretor de polícia, uma
das questões que mais preocupa a segurança pública são os jovens, faixa
social cada vez mais atingida com a violência urbana. "A questão dos
jovens é problema social. A polícia deveria ser o último caminho pelo
qual deveriam passar os jovens. Isso está atrelado ao tráfico de drogas,
principalmente em bairros de periferia", esclareceu.
Procurando
beneficiar-se com os lucros e as ofertas dos traficantes, muitos jovens
não conseguem pagar as dívidas e caem no "laço do passarinheiro". "Falta
investimento em educação, em lazer, em ocupação para o jovem. Colocar
os autores desses crimes na cadeia, sem ressocialização, é colocá-los
numa escola onde eles aprenderão as artes de crimes ainda maiores",
finalizou.
Polícia Militar enfatiza trabalho ostensivoDe
acordo com o coronel Alarico Azevedo, comandante do patrulhamento
metropolitano, várias operações foram aplicadas pela Polícia Militar do
Rio Grande do Norte no último final de semana. Nesse período, foram
apreendidas 10 armas de fogo durante os trabalhos de rotina da PM. "Para
nós, isso significa menos 10 ou mais homicídios ou menos 10 ou mais
assaltos. É um trabalho significativo e importante para a segurança da
sociedade", alegou Alarico.
De acordo com dados do setor de
estatística da PM, até o último domingo foram apreendidas 482 armas de
fogo em toda a grande Natal. Ano passado foram 470. "O bandido trabalha
com a questão da oportunidade, do momento. O nosso grande desafio hoje
é, em parceria com a Civil, identificar os pontos onde ocorre o tráfico
de drogas para conseguir prender os traficantes", confessou. Segundo
ele, indivíduos encontrados com posse de drogas voltam as ruas novamente
por ser um crime de menor potencial. Por possuírem dívidas com os
traficantes, essas pessoas "quase sempre" morrem.
Segundo
Alarico, a Polícia Militar vem efetuando trabalhos ostensivos
continuamente. A operação Corredor Seguro colocou blitz em vários pontos
estratégicos em toda Natal para abordar automóveis e outros veículos.
Os locais escolhidos são organizados através do setor de estatística da
PM, que contabiliza as regiões com maior número de crimes.
Outra
operação mencionada pelo coronel Alarico foi a Transporte Seguro, também
em locais onde as ocorrências de assalto são em maior número, além da
Litoral Seguro, em virtude das viagens ao longo do feriadão. Porém, o
comandante enfatizou que reduzir o número de homicídios com origem no
tráfico de drogas depende do trabalho de inteligência da Polícia Militar
e de investigação da Polícia Civil, para desbaratar os focos de origem
do problema: os pontos de venda.
"A maioria dos homicídios está
vinculado ao acerto de contas. Todavia, o trabalho da PM é muito mais
complexo do que se imagina. É preciso tempo para fustigar, investigar e
desbaratar os pontos de tráfico", encerrou.