A FARSA DA SEGURANÇA NO RN
O repórter pergunta: “comandante, o que dizer dessa violência
desenfreada que atinge agora até a própria policia?”
O comandante responde: “É... Entregamos esta semana mais 140 viaturas
novas, dois mil coletes à prova de balas, e cinco mil pistolas. O
governo está fazendo sua parte esperamos que isso possa resolver o
problema.”
Você, leitor atento, ouvinte atento, telespectador atento, viu alguma
relação da resposta do comandante com a pergunta do repórter?
Há dois anos, o comando da policia militar do nosso estado vem repetindo
na imprensa a mesma conversa. É como se quisesse subestimar a nossa
inteligência, nos fazer de idiotas, já que estamos idiotizados. Quem
estar a frente do combate sabe que a policia militar do nosso estado não
tem planejamento algum para suas ações e quando algum desavisado tenta
planejar algo é sufocado por uma ordem superior ou mesmo pelas
limitações materiais que lhes são impostas.
Trabalho em uma companhia que em menos de dois anos, mudou de comandante
nove vezes, fora mais de um mês que passou sem comandante. Dentre esses
teve aqueles que passaram uma semana. Um que passou apenas três dias e
outros que chegaram e saíram sem ninguém os conhecer. PLANEJAMENTO DE
TRABALHO?
Um deles tentou formular algo, esse passou três dias
no comando.
Todos os batalhões têm um oficial que fiscaliza todo o serviço de cada
plantão. A maioria deles serve apenas para participar dos faltosos e dar
entrevista para a TV quando algum policial faz alguma prisão. Além
deste tem um sargento fiscal do batalhão, que se quer tem uma viatura
para se locomover e sua missão em 24h é apenas pagar o vale refeição da
tropa. Achando pouco, as companhias têm mais um sargento fiscal e este
por sua vez também não tem viatura, para fiscalizar nada. Para completar
tem ainda o sargento encarregado de manutenção e sua equipe, quando na
unidade se quer tem oficina e este muitas vezes nem entende de mecânica.
Já vi viatura bater o motor por falta d’água no radiador e outra passar
uma semana “baixada” por falta de um fusível que custa 0,30 centavos.
Em 13 anos na corporação ainda não trabalhei em nenhum lugar que
apresentasse um plano de trabalho (ou ação) objetivo. Todos os dias, vão
para as ruas, batalhões de homens, guiados apenas pela sua consciência.
Se achar que deve fazer alguma coisa, o faz. Se não, “voa” pra passar a
hora e só. A maior parte dos comandantes e seus subcomandantes aparecem
apenas para assinarem punições ou sugeri-las quando dos desvios
naturais de quem trabalha sem patrão.
Vez por outra trocam a nomenclatura. POLICIA DO BAIRRO,RÁDIO PATRULHA,
POLICIA COMUNITÁRIA, POLICIA INTERATIVA, RONDA CIDADÃ, RONDA ESCOLAR,
PATAMO, FORÇA TÁTICA, CHOQUE, GTO.... E ASSIM SUCESSIVAMENTE. A cultura
policial não muda, o gerenciamento não muda, o discurso elitista e
politiqueiro não muda, as ações não mudam. Recentemente um comandante de
unidade mandou punir um subordinado por que este desejou um bom dia aos
companheiros via radiocomunicador.
Até o salário mudou. Mas o problema da nossa policia militar não é
salário. É formação. É planejamento de ações. É objetivo. É
conhecimento. É vontade. É compromisso. É senso de responsabilidade.
No interior do estado, policiais são obrigados a trabalharem sozinhos em
uma cidade de 5 ,10, 12, mil habitantes. Eu, particularmente já atendi
muitas ocorrências em uma cidade do interior em meu próprio carro, com
meus próprios custos para não ter que ser entendido pela população como
omisso. Se algum subordinado se recusar a permanecer sozinho, certamente
será punido no mínimo com um prisão, e se sair , penalizado por
abandono de posto. Isso acontece rotineiramente.
Denunciar... Nem pensar. Conheço a história de um que denunciou situação
semelhante e foi punido com oito dias de prisão e uma queda no
comportamento, o prejudicando para o futuro. Afinal, o escudo arbitrário
dessa miséria é o estatuto autoritário e ultrapassado que confere aos
comandantes poderes de semideuses.
Estamos num calabouço escuro de faz-de-conta. O principio da autoridade
que nos foi concedida pelo estado para representa-lo é surrupiado pelos
nossos próprios superiores no interior dos quarteis. Somos reduzidos a
estrume.
Alguém acredita que o Estado está preocupado com a ceifa de nosso
colegas que estão sendo abatidos indiscriminadamente dia após dia?
Isso não começou ontem... Fazem já anos que estamos perdendo o controle.
Mudar os nomes não resolve... É preciso mudar a postura dos que
gerenciam. Na iniciativa privada, o gerente é o primeiro e o último.
Instruído planeja, sugere, coordena.
Assume os riscos pelos erros e acertos. No poder público gerenciar
(leia-se comandar) significa estar ausente. Assinar papéis, chegar tarde
e sair cedo. E como na filosofia “militaresca”, o comandante é o
espelho da tropa, vamos aos poucos adentrando ao abismo da inoperância e
do insucesso.
Sem mais delongas... “é muita estrela pra pouca constelação”.
ACSPMRN - DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO
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