Moisés
Alves da Silva, Joseane Pereira dos Santos, Marília Silva Gomes, Gilson
Enedino da Silva e Yuri Tomé Ribeiro são as crianças desaparecidas no
bairro do Planalto, em Natal, entre os anos de 1998 e 2001
(Foto: Divulgação/Polícia Civil do RN)
(Foto: Divulgação/Polícia Civil do RN)
30/11/2012 15h53
- Atualizado em
30/11/2012 15h53
CPI do Tráfico de Pessoas volta a Natal para rever rapto de 5 crianças
Comissão vai à Assembleia Legislativa do RN na segunda-feira (03).
Missão é o 'Caso das Crianças do Planalto', desaparecidas há 14 anos.
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico Nacional e Internacional
de Pessoas do Senado volta a Natal na próxima segunda-feira (03) e
realiza, a partir das 9h, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do
Norte, audiência pública para, mais uma vez, rever e discutir o
desaparecimento, entre 1998 a 2001, de cinco crianças no bairro
Planalto, na zona Oeste de Natal. O mistério ficou conhecido como o
'Caso das Crianças do Planalto'.
Uma comissão especial chegou a ser criada em 2003 para dar novo fôlego
às investigações. Já em dezembro de 2009, a deputada federal Bel
Mesquita (PMDB/PA) esteve em Natal. Ela presidiu a CPI durante a
audiência realizada na mesma Assembleia que, nesta segunda, recebe
novamente a Comissão. Naquele dia, Bel afirmou que faria os
encaminhamentos necessários para a investigação ficar a cargo da Polícia
Federal, o que não aconteceu.
Passados todos estes anos, a Polícia Civil continua sem respostas para
dar às famílias. As principais suspeitas, no entanto, indicam que as
crianças teriam sido levadas de suas residências para a remoção de
órgãos ou para adoção ilegal por estrangeiros.
A presidente da CPI, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), diz que a
audiência será uma forma de cobrar estas respostas. “Já solicitamos ao
Ministério da Justiça que a Polícia Federal também atue no caso para
aprofundarmos as investigações”, disse ela. A senadora irá coordenar a
audiência na capital potiguar.
“Esse caso das crianças desaparecidas do Planalto aconteceu há 14 anos e
estou acompanhando com muito empenho. A CPI veio para acrescentar e
tentar esclarecer esses desaparecimentos, já que o caso apresenta sérios
indícios de tráfico de crianças”, disse o senador Paulo Davim (PV/RN),
membro da CPI.
Além dos familiares das crianças, irão participar da audiência o
secretário estadual de segurança pública Aldair da Rocha, o
procurador-geral de Justiça Manoel Onofre Neto e o delegado da Polícia
Civil Márcio Delgado, designado especialmente para o caso.
Lindalva e Geraldo ainda têm esperança de
encontrar a filha (Foto: Magnus Nascimento)
encontrar a filha (Foto: Magnus Nascimento)
Lindalva Florêncio da Costa tem 53 anos. Ano passado ele sofreu um AVC e
quase morreu. Passou por uma cirurgia complexa, que lhe deixou
sequelada – uma dormência permanente nas pernas. Até hoje ela tem
dificuldades para andar. Ao longo da vida, engravidou doze vezes, mas
acabou perdendo três bebês quando ainda estava gestante. Uma queda de
bicicleta, uma hemorragia e a hepatite lhe fizeram abortar as crianças.
Inegavelmente, foram muitas as dores na vida de Lindalva. Porém, para
ela, nada disso importa. O sofrimento que ainda não superou é um só: o
sumiço da pequena Joseane Pereira dos Santos, quando ela tinha oito
anos. Aconteceu no dia 30 de janeiro de 1999.
Se viva estiver, Joseane já terá completado 21 anos. “Eu tenho fé. Meu
coração me diz que ela está em algum lugar fora do país, mas que ainda
está viva. Bem viva”. As palavras que exalam esperança soam em meio a
muitas lágrimas. Reaberto em 2011, o inquérito ainda não aponta
suspeitos. E até hoje a Polícia Civil não sabe, de fato, o que aconteceu
com Joseane, ou simplesmente Biba, como era carinhosamente chamada a
filha de dona Lindalva, e mais outras quatro crianças que desapareceram
no bairro do Planalto, todas de forma misteriosa, entre os anos de 1998 e
2001.
Segundo as investigações, quatro das cinco crianças dormiam quando
teriam sido raptadas. Apenas Joseane estava acordada quando foi levada.
“Ela estava na casa da vizinha, assistindo o DVD do Tiririca”, relembrou
Lindalva, emocionando-se com a dolorosa recordação.
O Caso das Crianças do Planalto é uma das páginas mais surpreendentes e
instigantes da crônica policial potiguar. Depois de o inquérito passar
pelas mãos de mais de 10 delegados ao longo de todos estes ano, a atual
responsabilidade de dar um desfecho diferente ao mistério está com o
delegado especial Márcio Delgado Varandas. O G1 tentou contato com o delegado, mas ele não atendeu e nem retornou as ligações.
O pai de Joseane, o feirante Geraldo Santos, também tem esperança de um
dia encontrar a filha. “Tenho certeza disso. Ela está em outro país. Eu
acredito que a levaram para algum casal que não podia ter filhos”,
declarou, referindo-se ao tráfico internacional de crianças. Questionado
se acredita na possibilidade de Joseane ter sido morta – para que seus
órgãos pudessem ter sido comercializados – o vendedor de frutas
agarrou-se à fé em Deus. “Nunca pensei nisso. Minha filha está viva. E
um dia voltaremos a vê-la. Pode passar mais treze anos, mas um dia
estaremos juntos de novo”, disse Geraldo.
O mistério no Planalto começou em novembro de 1998, quando Moisés Alves
da Silva, de 1 ano e 7 meses, foi levado de dentro de sua casa. Ele
dormia com os pais e os irmãos. Em janeiro do ano seguinte foi a vez de
Joseane Pereira dos Santos, de 8 anos, ser raptada da casa de uma
vizinha. O terceiro sumiço aconteceu em janeiro de 2000, com o rapto de
Yuri Tomé Ribeiro, de 2 anos. Três meses depois, o pequeno Gilson
Enedino da Silva também desapareceu. O último caso aconteceu em dezembro
de 2001, quando Marília da Silva Gomes, de 2 anos, também desapareceu
de dentro de sua residência, onde dormia com a mãe, os irmãos e o
padrasto.
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