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segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Dez pessoas são mortas no fim de semana; principal motivo é tráfico de drogas


A quantidade de assassinatos registrados em Natal e Região Metropolitana nesse final de semana - foram dez, da noite da sexta-feira (16) às 7h de hoje - eleva a estatística dos crimes de homicídios supostamente decorrentes do tráfico de drogas, segundo as autoridades da segurança pública do Estado.

Na maioria dos casos registrados no Itep-RN até a manhã dessa segunda-feira, a maioria das vítimas é do sexo masculino e todos adolescentes ou adultos jovens [entre 16 e 29 anos de idade]. Os crimes ocorreram também em municípios da região metropolitana, um em Macaíba e outro em São Gonçalo, porém a maioria foi registrado na zona Norte da capital. Só no último domingo, três homicídios foram registrados na região.

A sucessão de crimes violentos deixou quatro pessoas mortas até o último sábado. Houve ainda uma tentativa de homicídio, no bairro de Felipe Camarão, zona Oeste da capital. Um atendente de bar identificado como Paulo César, de 29 anos, sofreu 7 disparos de revólveres de calibre 38.

O garçom foi surpreendido por dois jovens armados no início da tarde, por volta das 15h, e recebeu os disparos sem a chance de reagir. Um dos autores dos disparos, um jovem de 18 anos, Luiz Felipe Mendonça, foi preso horas após o crime em flagrante. O outro, conhecido na região como "Juquinha", permanece foragido. Paulo César está internado no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel em estado gravíssimo e se não resistir se tornará a 11ª vítima do fim de semana violento.

Às 18h40 do domingo, um outro homem, identificado por Jorge Luiz Lira Rodrigues, de 30 anos, foi morto na rua do Limoeiro, no bairro Potengi, agora na região mais violenta da cidade: a zona Norte.  A vítima estava na calçada de casa quando foi surpreendida por dois homens que chegaram ao local em uma motocicleta. Os bandidos atiraram várias vezes e a vítima acabou caindo morta na própria calçada.

Pouco depois, por volta das 20h, um duplo homicídio teve como palco o conjunto Nordelândia, no bairro de Lagoa Azul, também na zona Norte da capital. João Paulo Ferreira da Silva, de 16 anos, e Ericsson Alan da Silva Nascimento, de 17 anos, foram surpreendidos por dois homens armados em um Gol preto, que desceram do veículo e abordaram as vítimas, ordenando que se ajoelhassem. Os disparos foram efetuados na nuca de cada uma das vítimas. João Paulo morreu na hora. Erickson ainda foi socorrido e encaminhado para o Hospital José Pedro de Bezerra (Santa Catarina), mas também não resistiu ao ferimento e veio a óbito.

Às 23h, em Macaíba, foi a vez de Luan dos Santos Nunes, de 19 anos, ser executado. Também abordado por dois homens, agora numa moto de cor preta, o rapaz foi assassinado quando voltava do trabalho. Por volta da 1h40 de ontem em São Gonçalo do Amarante, dois indivíduos também numa moto de cor preta abordaram um homem não identificado e de seguida efetuaram os disparos com arma de fogo.

Encerrando o fim de semana sangrento, um homicídio cometido com arma branca ocorreu por volta das 2h  da madrugada dessa segunda-feira em Redinha Nova. João Batista do Nascimento foi assassinado a golpes de faca dentro de sua própria casa. Após os as facadas, a vítima ainda se locomoveu por 30 metros até a casa de um vizinho, onde veio a falecer.

De acordo com o diretor de Polícia Civil da Grande Natal (DPGram), Albérico José Norberto, a maior parte dos crimes são motivados ou têm origem através do tráfico de drogas. "A maior parte dos homicídios registrados têm características de execução. E na grande maioria das vezes identificamos que os envolvidos nos crimes, vítimas e assassinos, fazem parte desse mundo tenebroso, que é o das drogas", alegou o diretor.

Segundo Albérico, o papel da Polícia Civil e instaurar inquéritos policiais e identificar os autores dos crimes tem sido cumprido. "Cabe à Polícia Militar o trabalho preventivo e ostensivo. Nosso papel é apenas investigativo", frisou.

Fazendo uso dos recursos disponíveis, que já são ineficientes, a Polícia Civil tenta realizar um trabalho em que se precisa de no mínimo três escrivães e dois delegados em cada distrital.

Atualmente, apenas um escrivão e um delegado executam esses trabalhos nas distritais, número que era suficiente há 30 anos atrás.  "Hoje essa quantidade de profissionais está defasada. Afinal intensificou-se o tráfico de drogas com o conseqüente aumento populacional das últimas décadas. Conseqüentemente, cresce a criminalidade", pontuou.

Albérito recordou que a Polícia Civil está organizando rondas, principalmente na região da zona Norte, em parceria com a Polícia Militar, cumprindo mandados de prisão e ordens de serviço. Para o diretor de polícia, uma das questões que mais preocupa a segurança pública são os jovens, faixa social cada vez mais atingida com a violência urbana. "A questão dos jovens é problema social. A polícia deveria ser o último caminho pelo qual deveriam passar os jovens. Isso está atrelado ao tráfico de drogas, principalmente em bairros de periferia", esclareceu.

Procurando beneficiar-se com os lucros e as ofertas dos traficantes, muitos jovens não conseguem pagar as dívidas e caem no "laço do passarinheiro". "Falta investimento em educação, em lazer, em ocupação para o jovem. Colocar os autores desses crimes na cadeia, sem ressocialização, é colocá-los numa escola onde eles aprenderão as artes de crimes ainda maiores", finalizou.

Polícia Militar enfatiza trabalho ostensivo

De acordo com o coronel Alarico Azevedo, comandante do patrulhamento metropolitano, várias operações foram aplicadas pela Polícia Militar do Rio Grande do Norte no último final de semana. Nesse período, foram apreendidas 10 armas de fogo durante os trabalhos de rotina da PM. "Para nós, isso significa menos 10 ou mais homicídios ou menos 10 ou mais assaltos. É um trabalho significativo e importante para a segurança da sociedade", alegou Alarico.

De acordo com dados do setor de estatística da PM, até o último domingo foram apreendidas 482 armas de fogo em toda a grande Natal. Ano passado foram 470. "O bandido trabalha com a questão da oportunidade, do momento. O nosso grande desafio hoje é, em parceria com a Civil, identificar os pontos onde ocorre o tráfico de drogas para conseguir prender os traficantes", confessou. Segundo ele, indivíduos encontrados com posse de drogas voltam as ruas novamente por ser um crime de menor potencial. Por possuírem dívidas com os traficantes, essas pessoas "quase sempre" morrem.

Segundo Alarico, a Polícia Militar vem efetuando trabalhos ostensivos continuamente. A operação Corredor Seguro colocou blitz em vários pontos estratégicos em toda Natal para abordar automóveis e outros veículos. Os locais escolhidos são organizados através do setor de estatística da PM, que contabiliza as regiões com maior número de crimes.

Outra operação mencionada pelo coronel Alarico foi a Transporte Seguro, também em locais onde as ocorrências de assalto são em maior número, além da Litoral Seguro, em virtude das viagens ao longo do feriadão. Porém, o comandante enfatizou que reduzir o número de homicídios com origem no tráfico de drogas depende do trabalho de inteligência da Polícia Militar e de investigação da Polícia Civil, para desbaratar os focos de origem do problema: os pontos de venda.

"A maioria dos homicídios está vinculado ao acerto de contas. Todavia, o trabalho da PM é muito mais complexo do que se imagina. É preciso tempo para fustigar, investigar e desbaratar os pontos de tráfico", encerrou.

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